terça-feira, 28 de agosto de 2012

Ecce-Homo - (Sapiens)?

Só nos lembramos de Santa Barbara quando faz trovoada.
Isto a propósito da tentativa de “restauro”, tentativa? Só se for de assassinato, levada a cabo pela Sr.ª Gimenez no Ecce-Homo da paróquia de Borja em Saragoça.
Não podia deixar de lançar umas quantas farpas relativamente a este assunto, até porque é uma área que me é relativamente próxima e conhecida.
Hoje em dia temos a mania da defesa da moral e bons costumes, duma caridadezinha, resquícios ainda do Estado-Novo, apregoa-se um pouco levianamente o “não há culpas a reclamar”, mas temo que neste caso há culpas a apontar e muitas.
O facto de o Pároco atribuir tamanha delicada tarefa a uma curiosa, só demonstra bem a noção e consideração que se nutre por esse mundo fora pelo património, não passando de meras tarefas “bricoleiras” que qualquer “jeitoso” pode desenrascar.
Não é pelo facto da Sr.ª Gimenez ser uma anciã de 81 anos que a desculpa de tal atentado, se a mesma se via incapacitada para o desempenho de tal “jornada”, que arrumasse as botas e as entregasse a “quem melhor pé tem para correr”, restauro nada tem a ver com pintura decorativa ou croché.
É triste que só nos tenhamos apercebido, aliás, gozado com este facto, quando por esse mundo fora, fruto de guerras, pilhagens, e todo o tipo de comportamentos iconoclastas, desapareçam todos os dias um pedaço da nossa memória coletiva, e porque raio não vem isso escarrapachado nos Facebook’s e afins?
Entristece-me que este episódio seja aproveitado por uma minoria pseudo-intelectualóide, que pouco percebe dos males do nosso património material e imaterial, para obterem uns quantos acenos de cabeça, quando na verdade a intenção subjacente nada tem a ver com a perpetuação da memória e passagem de testemunho a gerações vindouras.
Como é possível haver petições que solicitem deixar ficar a pintura no atual estado e afirmarem que “o ousado trabalho da espontânea artista representa um ato de amor cativante e um reflexo inteligente da situação política e social do nosso tempo”?
Que tenham atos de amor cativante para com os netinhos, a borrada feita nada tem a ver com a situação social atual. A obra originalmente criada por Elias Garcia Martinez retrataria em si a situação social da época? Ora torna-se legitimo apagar-se um registo inicial em detrimento de outro?
Como é possível achar-se piada a um atentado contra o património? Isto só
demonstra uma incrível falta de sensibilidade, respeito e bom senso.
Só me ocorre uma única razão para deixar ficar a pintura no atual estado, e essa é única e exclusivamente como exemplo a não seguir, esperando no entanto que não se abra um precedente perigosíssimo e dê aval para tudo o que é curioso se mande por esse mundo fora a “espintalgar” pinturas barrocas.
Deveria este episódio chamar a atenção para todos os outros “incidentes” oficiosos e não Facebookados, despertar a consciência no público da importância e fragilidade do património mundial, e de uma vez por todas dar a conhecer que existe um sem número de pessoas por esse mundo fora que disto fazem profissão. Profissionais que detêm conhecimentos práticos, teóricos, científicos, éticos e deontológicos. Pessoas que queimaram pestanas anos a fio em Faculdades para que pudessem desempenhar este tipo de tarefas da forma mais profissional possível.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A tampa de esgoto...

Ora então cá estamos para a nossa “rentrée” e o malfadado regresso de umas férias espojados na areia ao sol.
Com o pelo mais alourado e o "focinho" (o meu claro está) cheio de areia, cá se inicia mais um ano de árdua labuta.
Como não podia deixar de ser, aqui explano mais um assunto de extrema importância, que apesar do impacto poucos são os que lhe devotam a devida importância.
Isto acontece a todos os que na estradam andam aos comandos da sua bela viatura, falo das infindáveis e malfadadas tampas de esgotos que do “macadame” brotam como cogumelos.
A tampa de esgoto é o que de mais parecido conheço com umas abundantes e fartas unhas a “guinchar” num tampo de vidro. Ambos conseguem despoletar o mesmo efeito em cada um de nós, o encolher os ombros, os olhos semi-serrados e o habitual “xiiiiiiiiiiii” com cada pelinho dos braços eriçado após uma valente mocada e estrondo nas rodas do nosso querido bólide.
Aliás, a tampa de esgoto é o que de mais sintomático existe relativamente ao “Tuga” ser excelente quando o assunto é trabalhar lá fora, mas no seu canto faz tudo atamancado, “em casa de ferreiro espeto de pau”.
É impressionante não haver nenhuma tampa de esgoto nivelada com a estrada, ou estão acima do nível do alcatrão ou estão abaixo formando verdadeiras crateras.
Até consigo perceber que isto aconteça á medida que são aplicados os vários tapetes de alcatrão ao longo do tempo, mas e as tampas de esgoto? Basta serem levantadas e reajustadas, dá trabalho? Acredito, mas caso contrário é trabalho mal feito e incompleto.
Isto é o mesmo que colocar um tapete de alcatrão na estrada para tapar buracos mas criar outros tantos institucionalmente aceites…
Fugimos atabalhoadamente de uma tampa, mas temos logo outras 50 á nossa espera, é humanamente impossível fugir a este flagelo rodoviário.
Como se não fosse suficientemente enervante este fenómeno, pior ficamos quando transportamos um belíssimo dum pendura que nos avisa da respetiva tampa 3 milímetros antes do embate e ainda tem a lata e o descaramento de comentar: “…andas a fazer pontaria às tampas?”…Ai ca nervos…
Fazer uma gincana a fugir dos buracos das tampas de esgoto na 24 de Julho seria um belíssimo desafio para o piloto de testes do Top Gear (The Stig), nem sei como Jeremy Clarkson nunca se lembrou desta, mas teria de o fazer num daqueles bólides bem lustrosos e baixinhos, o que na melhor das hipóteses resultaria em deixar o chassis para trás nos primeiros 10 metros de estrada.